Dra. E.
A Constituição Federal de 1988, consagrou em seu escopo diversos princípios democratizadores do Estado, entre eles o direito a liberdade religiosa, que vem a ser o direito a ter a sua religião, a sua crença, assim como o direito a não tê-la entretanto, não deve-se confundir o Estado laico com o Estado ateu.

Considerar o Estado como sendo ateu, implicaria discriminação ente os que acreditam e os que não acreditam em Deus, aqui considerado como entidade suprema em qualquer religião.

A nova ordem constitucional, advinda da Carta Magna de 88, preconizou a igualdade no tratamento e a liberdade religiosa, assim sendo, não faz sentido, considerar constitucional a justificativa de cunho estritamente religioso para negar direitos a determinados seguimentos da sociedade, afinal um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil é “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.
Dra. E.
Eu quero o seu amor, o seu carinho
Quero sua compreensão
Eu quero seus beijos, seus abraços
Quero arder de paixão
Eu quero a paz, quero meu anjinho
Quero correr da solidão
Eu quero que seu corpo com o meu dê um laço
Com você ao meu lado, tempos felizes virão!
Dra. E.
Era para ter sido uma caminhada como outra qualquer para aquele grupo de amigas. Conversavam tranquilamente em meio a muitas risadas. Era o primeiro dia de Carol em Florianópolis, e fazia um dia lindo. Ela havia viajado para conhecer amigas de internet, dentre elas, Bia, com quem estava no início de um namoro virtual. Faziam parte do grupo também Tatiana e Tatiane, que não poderiam ser mais diferentes entre si, Tatiana era morena e alta com um olhar fatal e Tatiane era baixinha como Carol, loira dos olhos claros, além de Michele e Mariana, todas lindas, afinal “floripa só tem mulherão” pensou Carol, um pouco mais alto do que pretendia, fazendo-a tomar um cutucão de Bia. O que fez o grupo cair na risada. O lugar era muito diferente do que Carol, carioca, estava acostumada. “O sul é, realmente, encantador” disse. Ela e Bia haviam andado a Beira-mar quase toda de braços dados e absolutamente ninguém tinha olhado torto para o grupo. “Ok, mas sem exageros” disse uma receosa Mariana, “Vai que alguém conhecido passa por aqui”? “Deixa de ser paranoica” brigou Tatiane, “qual o problema em andar de braços dados com outra menina”? “você sabe que a minha família não sabe de mim” retrucou. “Está tudo bem, vamos respeitar” disse Carol, soltando o braço de Bia que pareceu não muito satisfeita, porém conformada. Pelo menos era o que parecia naquele momento. Pararam em uma lanchonete no meio do caminho e pediram um lanche, afinal elas já estavam andando há mais de uma hora, mereciam sentar um pouco. Um grupo grande de mulheres, como aquele, chamava a atenção dos homens que passavam e, alguns vinham tentar a sorte com elas, em vão. E assim continuaram a tarde quase toda o passeio para mostrarem a cidade à Carol. Era quase hora de se despedirem, Tatiana levaria Carol para a casa de Michele, onde ela estava hospedada. Foi quando Bia surgiu com um bis em suas mãos e, retirando o embrulho, colocou-o em sua boca e o ofereceu à Carol, para o desespero de Mariana que em coro com as outras meninas dizia “não pega! não pega!” - longa pausa - “Ah, pegou”!
Dra. E.
Era o dia da virada, dia 31 de dezembro de 2008, Danielle e seu grupo de amigos saiu de sua casa de praia em direção à festa da virada em Cabo Frio. Em seu carro estavam, Luiz, com seu namorado David, Melissa, colega de trabalho de Danielle, que desconhecia sua homossexualidade, Gabriel, amigo de Luiz que havia terminado um namoro na semana anterior e que Dani havia acabado de conhecer e Gustavo, amigo de faculdade de Danielle e Luiz. Era uma mistura perigosa para a engenheira. Ao chegarem na cidade, trataram logo de encontrar lugar para estacionar e descobrir uma maneira de lembrar onde haviam deixado o carro, pois no dia anterior levaram horas para acha-lo. Dirigiram-se para a praia, onde haveria a queima de fogos e a festa no quiosque LGBT, onde Dani e Gabriel pretendiam ficar depois de meia noite, para isso Dani havia pedido para Gustavo dar em cima de Melissa e ficar com ela para que eles pudessem escapar e ir para a festa. Com tudo combinado e os ingressos nas mãos, foram todos para a praia aguardar a grande hora. Tudo muito lindo, o clima maravilhoso, todos cheios de felicidade. E Gustavo ficando com Melissa. “Ótimo”, pensou Danielle e, cutucando Gabriel, deu um jeito de combinar com Luiz e David, um horário para se encontrarem com a galera, depois de curtirem a noite. E lá foram eles para o gayosque, curtir tudo o que queriam. A festa já estava animadíssima quando eles entraram, lotada de gente bonita, tudo o que eles precisavam. Ou talvez até demais. Um grupo puxou conversa com os dois e Danielle logo percebeu a Rafaela, uma menina de sorriso encantador no meio deles. Elas começaram a conversar e foram logo se animando, apesar de uma outra menina do mesmo grupo não ter gostado muito, afinal ela tinha percebido a presença de Danielle primeiro. Mas isso não foi problema para ambas. Até que Rafa pergunta meio descontraída “o que vamos fazer na próxima meia hora”? “Meia hora? Como assim” perguntou uma confusa Danielle e obtendo a resposta “é que minha namorada chega daqui a meia hora” da Rafaela, fechou a cara, pois não aprovava esse tipo de atitude e, se afastando disse “assim eu não quero”. Na mesma hora o celular de Rafaela tocou, anunciando a chegada de sua namorada o que deixou-a desconcertada, pois não sabia se ela a tinha visto se insinuando para Danielle, que saiu de perto rindo e foi para perto de Gabriel, mas se afastou ao perceber que o amigo estava um tanto ocupado. Foi quando Aline se aproximou dela, ela era uma linda de morena de olhos verdes que começou logo uma conversa descontraída e cheia de bom humor, tudo o que a Dani gosta. Quando as coisas pareciam melhorar, chega Gabriel correndo e puxando-a para avisar que seu celular tocara e eram os meninos chamando-os para o ponto de encontro. “Ninguém merece” pensou conformada. “Eu já volto” disse para Aline e saiu junto com Gabriel para procurar seus amigos do lado de fora. Ao avista-los, foram correndo ao seu encontro e começaram a negociar um prazo maior para voltarem para casa, foi quando Gabriel soltou um “A racha liiiiiiiiiiiiiiinda querendo ficar com a Dani e ela não quer”, seguido de um “AIE” por causa de um pisão em seu pé que Danielle deu olhando com raiva para ele, que se tocou sobre a presença de Melissa que ria. “Eu realmente mereço” pensou Dani que puxou Gabriel pelo braço e saiu dizendo “agente se encontra daqui a duas horas”. De volta ao “gayosque”, depois de rir do acontecido, Dani fez uma busca visual, procurando achar a Aline, mas não a viu, e acreditava ter perdido sua chance, um vento frio passou por sua pele, deixando-a toda arrepiada. Foi quando ouviu uma voz que dizia “está com frio”? Virou-se e viu Aline ali parada e respondeu afirmativamente com a cabeça. “Está com frio porque quer”. Dani deu um passo adiante e ficou frente-a-frente com Aline que lhe deu um abraço gostoso que evoluiu para um longo beijo, que poderia ou não ter durado as duas horas seguintes, pois elas mal perceberam o passar do tempo, mas foram obrigadas a percebe-lo pois o celular de Dani começou a tocar insistentemente, eram os meninos, e eles queriam voltar pra casa. Gabriel recusou-se a ir embora, mas como Dani era a dona do carro e da casa, ela se viu sem muita escolha que não fosse voltar para o carro. Saindo do quiosque, ainda encontrou com Rafaela e a namorada abraçadas em cima do capô de um carro que estava estacionado ali por perto. Ela deu um sorriso safado para Danielle e uma piscada de olho que deixou-a sem graça. Ela, porém olhou para trás e viu Aline parada na porta, olhando-a partir. Voltou os olhos para Rafaela e sorriu balançando a cabeça com um não, olhou para trás, mandou um beijo para Aline que retribuiu e caminhou em direção aos amigos que a aguardavam.
Dra. E.
Era apenas mais um dia na vida da publicitária Ellen Novais quando ela subiu no avião que a levaria até Porto Alegre, ou pelo menos era o que ela havia dito em casa. A viagem foi bem tranquila da decolagem até a aterrissagem, mas seu coração permanecia acelerado como se algo de muito importante fosse acontecer. Ela pegou sua mala e caminhou em direção ao desembarque onde seus amigos a estariam aguardando, foi uma festa quando pôs os pés para fora do portão. Todos vieram abraça-la e cumprimenta-la. Foram de carro até um barzinho onde passaram algumas horas conversando e, de lá dirigiram até a casa da Mônica, jornalista, sua ex, onde ela ficaria apesar de agora estar namorando outra pessoa, Laíza, por quem estava apaixonada. O clima estranho entre as três durou o tempo necessário para que Ellen dissesse para Laíza não se preocupar e que confiasse nela. Chegando a casa de Mônica, os meninos foram dormir e as meninas ficaram na sala conversando até que o dia clareasse. Era aniversário de Bruno, e os meninos pretendiam fazer uma festa surpresa, então levantaram cedo e foram para a casa do Carlos, onde seria dada a festa, e levaram as outras meninas, apenas Ellen, Mônica e Bruno ficaram. O cansaço tomou conta do corpo da publicitária e, esta disse que tentaria dormir, Mônica, porém disse a ela que dormisse em sua cama, que não teria problema algum. Ellen relutou, mas acabou concordando. Deitou-se no canto da cama de casal de cara para a parede e tentava descansar quando ouviu um barulho no quarto, era Mônica arrastando um colchonete para a sala. “Não seja boba” disse, “a cama é grande, cabemos as duas aqui”. Mônica, então deitou-se ao lado de Ellen e desejou-lhe bom descanso. Os olhos pesavam quando Ellen sentiu as mãos de Mônica em seu ombro, “desculpe-me por ter-lhe abandonado quando mais precisou de mim” disse a jornalista. “Não precisa se preocupar com isso, ficou no passado” respondeu Ellen com uma voz serena, mas a jornalista insistia “eu precisava pedir desculpas, o que fiz a você, não se faz”, “mas eu superei, sou mais forte do que as pessoas pensam, mesmo assim, obrigada pela preocupação” continuou a publicitária, sendo interrompida pela jornalista “sabe que eu sempre quis saber qual o sabor do seu beijo”? O coração de Ellen parou por uns instantes, não acreditava no rumo que a conversa estava tomando. Foi quando a jornalista chegou seu corpo para bem perto, tendo apenas alguns milímetros separando as suas bocas. Ellen podia sentir a respiração de Mônica junto a sua, e todas as células de seu corpo diziam sim, afinal Mônica foi seu primeiro amor, a primeira mulher pela qual ela havia se apaixonado e com quem nunca havia trocado um beijo, era esta a sua oportunidade. Os olhos já se fechavam para selar o beijo quando em sua mente veio a imagem de Laíza. Como poderia fazer tal coisa com ela? “Não posso” disse com voz relutante, “não dá”. Mal podia acreditar no que dizia, mas de sua boca, realmente, saíam essas palavras. E afastou-se pedindo desculpas. “Tenho namorada, não posso fazer isso com ela” disse olhando fixo nos olhos de Mônica que acenou com a cabeça concordando. “Posso pelo menos te dar um abraço”? Perguntou a jornalista. Foi um longo abraço, cheio de significados para ambas, mas que selou uma grande amizade que duraria anos.