Dra. E.
Era apenas mais um dia na vida da publicitária Ellen Novais quando ela subiu no avião que a levaria até Porto Alegre, ou pelo menos era o que ela havia dito em casa. A viagem foi bem tranquila da decolagem até a aterrissagem, mas seu coração permanecia acelerado como se algo de muito importante fosse acontecer. Ela pegou sua mala e caminhou em direção ao desembarque onde seus amigos a estariam aguardando, foi uma festa quando pôs os pés para fora do portão. Todos vieram abraça-la e cumprimenta-la. Foram de carro até um barzinho onde passaram algumas horas conversando e, de lá dirigiram até a casa da Mônica, jornalista, sua ex, onde ela ficaria apesar de agora estar namorando outra pessoa, Laíza, por quem estava apaixonada. O clima estranho entre as três durou o tempo necessário para que Ellen dissesse para Laíza não se preocupar e que confiasse nela. Chegando a casa de Mônica, os meninos foram dormir e as meninas ficaram na sala conversando até que o dia clareasse. Era aniversário de Bruno, e os meninos pretendiam fazer uma festa surpresa, então levantaram cedo e foram para a casa do Carlos, onde seria dada a festa, e levaram as outras meninas, apenas Ellen, Mônica e Bruno ficaram. O cansaço tomou conta do corpo da publicitária e, esta disse que tentaria dormir, Mônica, porém disse a ela que dormisse em sua cama, que não teria problema algum. Ellen relutou, mas acabou concordando. Deitou-se no canto da cama de casal de cara para a parede e tentava descansar quando ouviu um barulho no quarto, era Mônica arrastando um colchonete para a sala. “Não seja boba” disse, “a cama é grande, cabemos as duas aqui”. Mônica, então deitou-se ao lado de Ellen e desejou-lhe bom descanso. Os olhos pesavam quando Ellen sentiu as mãos de Mônica em seu ombro, “desculpe-me por ter-lhe abandonado quando mais precisou de mim” disse a jornalista. “Não precisa se preocupar com isso, ficou no passado” respondeu Ellen com uma voz serena, mas a jornalista insistia “eu precisava pedir desculpas, o que fiz a você, não se faz”, “mas eu superei, sou mais forte do que as pessoas pensam, mesmo assim, obrigada pela preocupação” continuou a publicitária, sendo interrompida pela jornalista “sabe que eu sempre quis saber qual o sabor do seu beijo”? O coração de Ellen parou por uns instantes, não acreditava no rumo que a conversa estava tomando. Foi quando a jornalista chegou seu corpo para bem perto, tendo apenas alguns milímetros separando as suas bocas. Ellen podia sentir a respiração de Mônica junto a sua, e todas as células de seu corpo diziam sim, afinal Mônica foi seu primeiro amor, a primeira mulher pela qual ela havia se apaixonado e com quem nunca havia trocado um beijo, era esta a sua oportunidade. Os olhos já se fechavam para selar o beijo quando em sua mente veio a imagem de Laíza. Como poderia fazer tal coisa com ela? “Não posso” disse com voz relutante, “não dá”. Mal podia acreditar no que dizia, mas de sua boca, realmente, saíam essas palavras. E afastou-se pedindo desculpas. “Tenho namorada, não posso fazer isso com ela” disse olhando fixo nos olhos de Mônica que acenou com a cabeça concordando. “Posso pelo menos te dar um abraço”? Perguntou a jornalista. Foi um longo abraço, cheio de significados para ambas, mas que selou uma grande amizade que duraria anos.