Dra. E.
Eu quero o seu amor, o seu carinho
Quero sua compreensão
Eu quero seus beijos, seus abraços
Quero arder de paixão
Eu quero a paz, quero meu anjinho
Quero correr da solidão
Eu quero que seu corpo com o meu dê um laço
Com você ao meu lado, tempos felizes virão!
Dra. E.
Era para ter sido uma caminhada como outra qualquer para aquele grupo de amigas. Conversavam tranquilamente em meio a muitas risadas. Era o primeiro dia de Carol em Florianópolis, e fazia um dia lindo. Ela havia viajado para conhecer amigas de internet, dentre elas, Bia, com quem estava no início de um namoro virtual. Faziam parte do grupo também Tatiana e Tatiane, que não poderiam ser mais diferentes entre si, Tatiana era morena e alta com um olhar fatal e Tatiane era baixinha como Carol, loira dos olhos claros, além de Michele e Mariana, todas lindas, afinal “floripa só tem mulherão” pensou Carol, um pouco mais alto do que pretendia, fazendo-a tomar um cutucão de Bia. O que fez o grupo cair na risada. O lugar era muito diferente do que Carol, carioca, estava acostumada. “O sul é, realmente, encantador” disse. Ela e Bia haviam andado a Beira-mar quase toda de braços dados e absolutamente ninguém tinha olhado torto para o grupo. “Ok, mas sem exageros” disse uma receosa Mariana, “Vai que alguém conhecido passa por aqui”? “Deixa de ser paranoica” brigou Tatiane, “qual o problema em andar de braços dados com outra menina”? “você sabe que a minha família não sabe de mim” retrucou. “Está tudo bem, vamos respeitar” disse Carol, soltando o braço de Bia que pareceu não muito satisfeita, porém conformada. Pelo menos era o que parecia naquele momento. Pararam em uma lanchonete no meio do caminho e pediram um lanche, afinal elas já estavam andando há mais de uma hora, mereciam sentar um pouco. Um grupo grande de mulheres, como aquele, chamava a atenção dos homens que passavam e, alguns vinham tentar a sorte com elas, em vão. E assim continuaram a tarde quase toda o passeio para mostrarem a cidade à Carol. Era quase hora de se despedirem, Tatiana levaria Carol para a casa de Michele, onde ela estava hospedada. Foi quando Bia surgiu com um bis em suas mãos e, retirando o embrulho, colocou-o em sua boca e o ofereceu à Carol, para o desespero de Mariana que em coro com as outras meninas dizia “não pega! não pega!” - longa pausa - “Ah, pegou”!
Dra. E.
Era o dia da virada, dia 31 de dezembro de 2008, Danielle e seu grupo de amigos saiu de sua casa de praia em direção à festa da virada em Cabo Frio. Em seu carro estavam, Luiz, com seu namorado David, Melissa, colega de trabalho de Danielle, que desconhecia sua homossexualidade, Gabriel, amigo de Luiz que havia terminado um namoro na semana anterior e que Dani havia acabado de conhecer e Gustavo, amigo de faculdade de Danielle e Luiz. Era uma mistura perigosa para a engenheira. Ao chegarem na cidade, trataram logo de encontrar lugar para estacionar e descobrir uma maneira de lembrar onde haviam deixado o carro, pois no dia anterior levaram horas para acha-lo. Dirigiram-se para a praia, onde haveria a queima de fogos e a festa no quiosque LGBT, onde Dani e Gabriel pretendiam ficar depois de meia noite, para isso Dani havia pedido para Gustavo dar em cima de Melissa e ficar com ela para que eles pudessem escapar e ir para a festa. Com tudo combinado e os ingressos nas mãos, foram todos para a praia aguardar a grande hora. Tudo muito lindo, o clima maravilhoso, todos cheios de felicidade. E Gustavo ficando com Melissa. “Ótimo”, pensou Danielle e, cutucando Gabriel, deu um jeito de combinar com Luiz e David, um horário para se encontrarem com a galera, depois de curtirem a noite. E lá foram eles para o gayosque, curtir tudo o que queriam. A festa já estava animadíssima quando eles entraram, lotada de gente bonita, tudo o que eles precisavam. Ou talvez até demais. Um grupo puxou conversa com os dois e Danielle logo percebeu a Rafaela, uma menina de sorriso encantador no meio deles. Elas começaram a conversar e foram logo se animando, apesar de uma outra menina do mesmo grupo não ter gostado muito, afinal ela tinha percebido a presença de Danielle primeiro. Mas isso não foi problema para ambas. Até que Rafa pergunta meio descontraída “o que vamos fazer na próxima meia hora”? “Meia hora? Como assim” perguntou uma confusa Danielle e obtendo a resposta “é que minha namorada chega daqui a meia hora” da Rafaela, fechou a cara, pois não aprovava esse tipo de atitude e, se afastando disse “assim eu não quero”. Na mesma hora o celular de Rafaela tocou, anunciando a chegada de sua namorada o que deixou-a desconcertada, pois não sabia se ela a tinha visto se insinuando para Danielle, que saiu de perto rindo e foi para perto de Gabriel, mas se afastou ao perceber que o amigo estava um tanto ocupado. Foi quando Aline se aproximou dela, ela era uma linda de morena de olhos verdes que começou logo uma conversa descontraída e cheia de bom humor, tudo o que a Dani gosta. Quando as coisas pareciam melhorar, chega Gabriel correndo e puxando-a para avisar que seu celular tocara e eram os meninos chamando-os para o ponto de encontro. “Ninguém merece” pensou conformada. “Eu já volto” disse para Aline e saiu junto com Gabriel para procurar seus amigos do lado de fora. Ao avista-los, foram correndo ao seu encontro e começaram a negociar um prazo maior para voltarem para casa, foi quando Gabriel soltou um “A racha liiiiiiiiiiiiiiinda querendo ficar com a Dani e ela não quer”, seguido de um “AIE” por causa de um pisão em seu pé que Danielle deu olhando com raiva para ele, que se tocou sobre a presença de Melissa que ria. “Eu realmente mereço” pensou Dani que puxou Gabriel pelo braço e saiu dizendo “agente se encontra daqui a duas horas”. De volta ao “gayosque”, depois de rir do acontecido, Dani fez uma busca visual, procurando achar a Aline, mas não a viu, e acreditava ter perdido sua chance, um vento frio passou por sua pele, deixando-a toda arrepiada. Foi quando ouviu uma voz que dizia “está com frio”? Virou-se e viu Aline ali parada e respondeu afirmativamente com a cabeça. “Está com frio porque quer”. Dani deu um passo adiante e ficou frente-a-frente com Aline que lhe deu um abraço gostoso que evoluiu para um longo beijo, que poderia ou não ter durado as duas horas seguintes, pois elas mal perceberam o passar do tempo, mas foram obrigadas a percebe-lo pois o celular de Dani começou a tocar insistentemente, eram os meninos, e eles queriam voltar pra casa. Gabriel recusou-se a ir embora, mas como Dani era a dona do carro e da casa, ela se viu sem muita escolha que não fosse voltar para o carro. Saindo do quiosque, ainda encontrou com Rafaela e a namorada abraçadas em cima do capô de um carro que estava estacionado ali por perto. Ela deu um sorriso safado para Danielle e uma piscada de olho que deixou-a sem graça. Ela, porém olhou para trás e viu Aline parada na porta, olhando-a partir. Voltou os olhos para Rafaela e sorriu balançando a cabeça com um não, olhou para trás, mandou um beijo para Aline que retribuiu e caminhou em direção aos amigos que a aguardavam.
Dra. E.
Era apenas mais um dia na vida da publicitária Ellen Novais quando ela subiu no avião que a levaria até Porto Alegre, ou pelo menos era o que ela havia dito em casa. A viagem foi bem tranquila da decolagem até a aterrissagem, mas seu coração permanecia acelerado como se algo de muito importante fosse acontecer. Ela pegou sua mala e caminhou em direção ao desembarque onde seus amigos a estariam aguardando, foi uma festa quando pôs os pés para fora do portão. Todos vieram abraça-la e cumprimenta-la. Foram de carro até um barzinho onde passaram algumas horas conversando e, de lá dirigiram até a casa da Mônica, jornalista, sua ex, onde ela ficaria apesar de agora estar namorando outra pessoa, Laíza, por quem estava apaixonada. O clima estranho entre as três durou o tempo necessário para que Ellen dissesse para Laíza não se preocupar e que confiasse nela. Chegando a casa de Mônica, os meninos foram dormir e as meninas ficaram na sala conversando até que o dia clareasse. Era aniversário de Bruno, e os meninos pretendiam fazer uma festa surpresa, então levantaram cedo e foram para a casa do Carlos, onde seria dada a festa, e levaram as outras meninas, apenas Ellen, Mônica e Bruno ficaram. O cansaço tomou conta do corpo da publicitária e, esta disse que tentaria dormir, Mônica, porém disse a ela que dormisse em sua cama, que não teria problema algum. Ellen relutou, mas acabou concordando. Deitou-se no canto da cama de casal de cara para a parede e tentava descansar quando ouviu um barulho no quarto, era Mônica arrastando um colchonete para a sala. “Não seja boba” disse, “a cama é grande, cabemos as duas aqui”. Mônica, então deitou-se ao lado de Ellen e desejou-lhe bom descanso. Os olhos pesavam quando Ellen sentiu as mãos de Mônica em seu ombro, “desculpe-me por ter-lhe abandonado quando mais precisou de mim” disse a jornalista. “Não precisa se preocupar com isso, ficou no passado” respondeu Ellen com uma voz serena, mas a jornalista insistia “eu precisava pedir desculpas, o que fiz a você, não se faz”, “mas eu superei, sou mais forte do que as pessoas pensam, mesmo assim, obrigada pela preocupação” continuou a publicitária, sendo interrompida pela jornalista “sabe que eu sempre quis saber qual o sabor do seu beijo”? O coração de Ellen parou por uns instantes, não acreditava no rumo que a conversa estava tomando. Foi quando a jornalista chegou seu corpo para bem perto, tendo apenas alguns milímetros separando as suas bocas. Ellen podia sentir a respiração de Mônica junto a sua, e todas as células de seu corpo diziam sim, afinal Mônica foi seu primeiro amor, a primeira mulher pela qual ela havia se apaixonado e com quem nunca havia trocado um beijo, era esta a sua oportunidade. Os olhos já se fechavam para selar o beijo quando em sua mente veio a imagem de Laíza. Como poderia fazer tal coisa com ela? “Não posso” disse com voz relutante, “não dá”. Mal podia acreditar no que dizia, mas de sua boca, realmente, saíam essas palavras. E afastou-se pedindo desculpas. “Tenho namorada, não posso fazer isso com ela” disse olhando fixo nos olhos de Mônica que acenou com a cabeça concordando. “Posso pelo menos te dar um abraço”? Perguntou a jornalista. Foi um longo abraço, cheio de significados para ambas, mas que selou uma grande amizade que duraria anos.
Dra. E.
No sábado, eu estava caminhando pelos estandes da feira de gestantes e bebês que ocorria aqui pero de casa quando me deparei com um enorme cartaz de uma casa de festas infantis com vários modelos de convites, fotos de festas e tudo o mais que fosse necessário para encantar quem passasse. Mas olhando atentamente pude perceber a mensagem subliminar deixada em cada foto de meninas; elas diziam “encontre o príncipe encantado”.
Os anos passam e essas coisas não mudam, meninas são criadas para tomar conta da casa, dos filhos e dos maridos. Mas um dia elas crescem e, nem todas querem isso da vida. Na sexta-feira, por exemplo, passei de moto por um carro que tinha um adesivo com a frase “mulheres sábias edificam seu lar, as tolas lava, passam e cozinham”. Os tempos mudam conforme nossa vontade.
Por isso vou lhes contar uma história diferente, hoje.
Era uma vez uma veterinária do Paraná que, muito confusa, procurou amizades no mIRC para conhecer melhor um mundo que ela desconhecia. Por lá ela encontrou várias pessoas interessantes e outras nem tanto. Foi conversando, conhecendo e se aprofundando num mundo tão estranho ao que achava ser seu que acabou se encontrando e jogando neste mundo tão diverso e divertido. Era algo que ela jamais imaginara acontecer em sua vida. Divertia-se como nunca. E de boca em boca passou de confusa a entendida, sabia muita coisa desta vida. Mas nunca deixou de “bater ponto” em seu bate papo favorito o #lesbians da brasIRC. Foi lá que, anos antes, conhecemo-nos e nos tornamo amigas, sim, apenas boas amigas, assim pude conhecer sua história de perto, embora de longe. E nesse vai-e-vem da vida sua história encontrou com a de uma médica do Tocantins. Foi algo tão intenso que a médica “inventou” um mestrado para fazer numa universidade do paraná só para poder ficar perto de sua amada. E assim elas viveram por mais de 2 anos. Pouco depois do mestrado terminar, a mãe da médica teve problemas de saúde, fazendo com que ela voltasse a sua cidade natal, mas não foi o fim do relacionamento delas, pois, desta vez, quem largou tudo para trás foi a veterinária que se mudou para o Tocantins e está lá desde então.
Bem, para a proteção de todos, alterei alguns dados na história contada, mas não o enredo. Elas continuam vivendo juntas há mais de 8 anos, um amor virtual que se tornou bem real.
Moral da história? Nem sempre o príncipe encantado é um príncipe e nem sempre ele é encantado.
A história da vida dos casais, tendo sido iniciada real ou virtualmente pode perdurar por anos, meses ou dias, tudo depende do quanto as pessoas são compatíveis, do quanto elas sabem ceder, de muita conversa #Drfeelings, e de vários outros fatores que, muitas vezes, fogem ao nosso controle. Se o relacionamento será efêmero ou infindável, o importante é o que ele deixa em você. Pois, como já dizia Carlos Drummond de Andrade: “Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata”!
Como homenagem ao amor, deixá-los-ei na companhia de Vinicius de Moraes em seu “Soneto de Fidelidade”

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes, "Antologia Poética", Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1960, pág. 96.
Dra. E.
A primeira vez em que o vi foi pela webcam. Era dia 05 de junho de 2005 e eu não sabia da sua mãe há dois dias, sim, você nasceu no dia 03 e eu não sabia. Sequer sabia de sua existência, conversava com sua mãe pelo msn todos os dias e mal imaginava sua gravidez. Então, neste dia, que também é o aniversário dela, ela apareceu online. Não sabia bem o que me dizer, enrolou o quanto pode, foi quando o Joey, meu cachorro a quem eu chamo de meu filho, entrou no quarto. Eu disse: “olha o meu filho aí na webcam” e ela respondeu; “vou mostrar o meu pra você”. Achei que ela estivesse falando de um cachorro, mas surgiu você em minha tela, tão pequeno e tão lindo, uma sensação muito diferente tomou conta de mim, era um misto de alegria, emoção e euforia, que, na realidade, eu não sabia se chorava ou se sorria. O fato era que eu nunca tinha sido tão feliz em ver alguem como eu fui feliz naquele dia.
Nenhum dia passava sem que eu visse você pela internet, podia passar horas admirando cada movimento seu, dois dias depois, eu e sua mãe resolvemos começar a namorar.
Sua mãe e eu queríamos muito nos ver e eu era louca pra conhecer você, então, quando você tinha apenas 3 meses, eu comprei a passagem da sua mãe, lá do Maranhão para o Rio de Janeiro. Ficamos hospedados por 11 dias em uma pousada. Foram 11 dias inesquecíveis. Eu nunca tinha tido contato com bebês tão pequenos e frágeis, e aprendi rapidamente a trocar sua fralda, dar banho e entreter você, o que não era muito difícil, você sempre foi uma criança encantadora. Foi nessa época em que eu apresentei vocês para a minha mãe, mas acredito que as preocupações que vieram a mente dela na época impediram-na de se apaixonar por você naquele instante. Vocês voltaram, mas nossos dias juntos foram tão maravilhosos que decidimos morar juntas. Consequentemente, vocês voltaram, meses depois para formar comigo uma família.
Isso ocorreu quando você tinha 7 meses, eu tinha alugado um apartamento próximo ao meu trabalho e, juntamente com a minha irmã, deixei o lugar pronto para receber vocês. Parte da mobília veio da minha casa, outras coisas agente ganhou, o resto eu parcelei no boleto e montamos o nosso lar.
Você, como criança saudável que é, aprendeu rapidamente a andar, e eu estava ao seu lado quando deu seus primeiros passos. Vi também o dia em que o primeiro dente rompeu, lembro claramente, eu gritando a sua mãe para vir ver seu dentinho. A primeira palavra demorou mas, adivinha quem estava lá ao seu lado quando a pronunciou? Acertou se disse que fui eu, ensinei você a dizer “manhê”.
Tudo que eu podia eu fazia por você. Era eu quem dava a primeira e a última mamadeira do dia, quem levava você para a creche, à pediatra e até mesmo quem brincava com você mesmo depois de passar o dia todinho trabalhando. Depois de muito brincar, eu dava um banho em você, passava seu hidratante, colocava um filme no DVD, fazia a sua mamadeira e ficava assistindo o filme ao seu lado até você dormir. No dia seguinte? Tudo outra vez.
Mas o relacionamento meu com a sua mãe não estava muito fácil e, decidimos que era melhor terminar. Como eu tinha melhores condições, fiquei com você. Mas sua avó biológica resolveu que era melhor você voltar para a sua família no Maranhão. Sua mãe até disse que, para mim, ela daria a sua guarda, mas como as coisas ruins geralmente não vem sozinhas, junto com a ruína de meu relacionamento, o local onde eu trabalhava fechou e tive que sair do apartamento onde morávamos. Não tive outra escolha que não fosse deixá-lo ir.
Fomos morar com a minha família, enquanto a sua avó se recuperava de uma cirurgia, foi o tempo para que eu começasse a restruturar a minha vida, conseguir novo emprego e seguir adiante, mas a decisão já havia sido tomada, você iria embora.
A única coisa que pedi, foi que ocorresse em um dia em que eu estivesse trabalhando, não suportaria ver você partir. Então, nesse dia, dei um beijo em sua testa enquanto você dormia, disse que o amava muito e fui trabalhar, certa que quando voltasse você não estaria mais lá. E foi o que aconteceu. E posso te dizer que em toda a minha vida eu jamais tive que tomar decisão tão dolorosa e tão difícil. Dias e semanas se passaram e eu fui me atolando cada vez mais em trabalho e estudos, sim, resolvi fazer uma segunda faculdade, qualquer coisa para não ter que encara a sua ausência.
Tempos depois, você retornou ao rio com a sua avó para ver sua mãe, eu ainda não conseguia lidar com a situação e a ideia de ver você novamente mais soava como perder você novamente. Não consegui ver você. Mais uns meses se passaram e vocês vieram outra vez, e eu, ingenuamente achando que estava melhor, resolvi sair com você para passear e fomos lá pra casa brincar. Sua avó tinha que viajar para SP e pediu para ficarmos com você enquanto isso, e foi o que aconteceu, e eu fui obrigada a vê-lo partir mais uma vez. A sensação foi a mesma como na primeira vez, acredito que a perda seja um vazio que jamais será preenchido.
Dois anos se foram, e minha mãe, a quem você chama de vovó, não aguentando mais de saudade, resolveu comprar passagens para você e sua avó, que hoje você chama de mãe, e hospedá-los em nossa casa. Foram quatro dias mágicos em que pude perceber que instantes depois que chegamos parecia que você nunca tinha partido. Agente ainda se dava tão bem. Certo dia você aprontou e tive que levá-lo para dormir mais cedo, o que foi aprovado de imediato por sua mãe. Depois de um tempo de manha exagerada, pedi para conversar com você e você se portou muito bem. Voltei para o quarto da sua tia, minha irmã, para usar o computador quando sua mãe me chamou. Na realidade era você que queria falar comigo, mas como estava tomando mamadeira eu não o escutava. Você, gesticulando, pediu que eu deitasse minha cabeça em sua barriga e, quando eu fiz, ficou fazendo carinho e dizendo algo que eu não compreendia, lembrando que você tinha uma mamadeira na boca. Eu disse: “não entendi, nada do que você falou com a mamadeira na boca” daí você tirou a mamadeira e disse baixinho “eu amo você”. Não são muitas as pessoas no mundo que podem afirmar que sabem o que eu senti nesse momento. Passeamos muito, brincamos muito, você foi ao cinema pela primeira vez, eu o ensinei a fazer um coração com as mãos, foi muito bom ter você ao meu lado mais uma vez.
Fim de feriado prolongado, hora de partir, dirigi até o aeroporto procurando me não pensar no que estava por acontecer. Ficamos lá algum tempo antes do horário do embarque, mas como não havia outro caminho, vi você sair da minha vida mais uma vez, embora, desta vez, eu saiba, certamente, que não terei que dizer adeus e, sim um até breve.
Amo você, Giovanni, como nunca amei ninguém.